Saudações

Obg pela preferência!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Ser Ausente

Com poucos sorrisos e uma timidez onipresente, mal falava com as pessoas. Tinha medo, receio, vergonha da vergonha que poderia passar. Ao invés de tentar, retraia-se, ao invés de falar, calava-se. Tentava descabidamente soltar-se, mas bastava ter outro ser a olhar-lhe, que falhava. Fora a mãe, o pai e o irmão seis anos mais novo, seu contato se reduzia a João seu amigo que pouco falava também. Tirando os acenos de cabeça e dois ou três comentários sobre assuntos da aula. A opinião que qualquer um dos dois iniciava sempre era acatada positivamente pelo outro, só para evitar a continuidade. De resto, eram pessoas que o abordavam nos locais com perguntas que tinham como resposta acenos de cabeça, ou afirmações retóricas mesmo. Conversas prolongadas? Nunca teve. Porém, adorava escutar. Sentava-se durante horas em mesas com tios, tias, primos, “amigos”, exclusivamente para prestar atenção aos diálogos. Se lhe indagassem algo, dava mínimas respostas, que escritas geravam não mais que uma linha e meia, ou simplesmente dizia “Continuem, só estou escutando.” Em casa, lhe respeitavam, achavam que era só seu modo de agir, de não falar desnecessariamente. Assim, era tido como “O menino educado”. Bem como eram as palavras, eram também suas ações. Nunca foi grosso com alguém, nunca xingou alguém, nunca retrucou seus pais, nunca tomava iniciativa alguma. Em grupo, só agia depois que alguém agira. Isolado, submetia-se a livros e filmes.
Enquanto alguns têm a necessidade de aparecerem, de serem vistos, notados, ele, escondia-se. Não por que queria, ou por que era mais um jovem problemático em um mundo capitalista e muito menos um rebelde sem causa. Não! Ideologias revolucionárias, roupas rasgadas nunca foram seu forte. Não ser notado, passar despercebido era a única forma que ele encontrou de entender como o mundo funcionava. Você nunca atua de forma principal ou coadjuvante, simplesmente assiste o teatro da vida e como os seres se comportam. Embora desta forma ele nunca conseguiu existir de verdade.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Labirintite

Sua boca ficara rocha e sua pele embranquecia instantaneamente. Suas mãos tornavam-se frigidas, trêmulas com suor escorrendo feito um córrego, tendo os dedos como divisores de água. O mundo girava incessantemente, e mesmo que tentasse segurar a cabeça não conseguia manter-se em equilíbrio. A tontura veio como um entorpe venal, e por mais que fixasse em um ponto qualquer este fazia círculos sem que ele conseguisse evitá-los. Parecia um bêbado perambulante, um louco desvairado ou um drogado em crise abstênica. Cada passo dado era torto e acompanhado pelas mãos na parede, ficar de pé naquele momento era um desafio; voltara a ser criança aprendendo a andar.
Tentou fechar olhos, piorara, sentiu-se cego dentro de uma roda gigante. Tentou sentar-se, mas, o máximo conseguido foi ter um centro de massa estável e um corpo em movimento circular. Não demorara a sentir-se pior, a sensação de queda só aumentara. Fadigado, estarrecido, desiludido, começara chorar e debruçara-se sobre o chão gelado do quarto seu corpo “oscilante”. Naquele momento, o silêncio da madrugada e o “tic-tac” do relógio só agravavam seu desespero. Desespero este, que não cessara, acrescia descontroladamente agora. Deitar-se, só catalisou o processo, as enxaquecas aumentaram, e a sensação agora é de que o piso afundava.
Esgotado, reuniu o sobrado de forças que havia, na esperança de conseguir pegar o remédio, em cima do criado mudo, e reduzir ao mínimo aquela tortura. Levantara esforçadamente suas pernas com auxilio das mãos que empurravam o piso, ficando na posição de quatro apoios. Seguidamente, de forma compassada, inclinava seu corpo vagarosamente, para se estabelecer de pé. Conseguira, e por milissegundos o sentimento de vitória sobressaiu à tontura e as enxaquecas.
Com cautela, arrastava cada pé movendo-se em direção ao criado, ora apoiando as mãos na parede, ora nos móveis. De repente, uma dor aguda surge em sua testa fortificando a tontura e aumentando as enxaquecas. Só conseguiu por as mãos na cabeça e soltar um uníssono de dor; caiu desacordado batendo a cabeça no chão. Acabara naquele momento mais uma de suas crises labirínticas.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Disparate

Que me poupem os sublimes e os surreais amantes deste sentimento, mas o amor não é o mais nobre dos sentimentos. Vos digo que o mais nobre sentimento é o desejo. Só o desejo pode mover o homem, o amor nada mais faz que estacioná-lo. O desejo provoca, arrisca, vinga, bate, satisfaz, e transmite qualquer sensação de prazer ou desprazer para o ser que deseja. Só o desejo é ambíguo. O amor nada mais é que um sentimento unilateral disfarçado por dois. O amor só ilude o amante, o objeto é amado e a reciproca é inerte. O desejo se contradiz. Por desejo a desculpa é desnecessária e as ações injustificadas, por amor foi “Por Amor!”.

domingo, 20 de março de 2011

Pensando alto

Desde que tomamos os primeiros “goles” de sanidade e conhecimento de causa, procuramos traçar métodos para vencer a vida. Métodos esses que nos ajudam a tornar nossa vivência linear, previsível e não suscetível a falhas; Não conseguimos. Fracasso?! Para Wilde alguns não vivem, para os Freudianos sofremos de síndromes, para os humanos somos seres.
Mas, afinal, por que a busca de um roteiro de felicidade?! Por que a busca de um itinerário gerador de sucesso?! Por que esta disputa? Sem respostas. Possíveis teorias talvez. E o mundo esgota-se. Mais que compostos orgânicos de carbono e amoníacos, tínhamos que ter algo que nos perturbasse.
O ser feliz nos assombra. Nos assombra, por que realmente não sabemos o que é felicidade. Achamos que momentos que nos fazem bem se assemelha ao ser feliz, pensamos que companhias de velhos amigos possa ser sinônimo de felicidade. Contudo, não sabemos o ponto G da “boa vida”. Só temos a certeza de sua efemeridade e que por tentar vive-la envelhecemos.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Meaningless

A TV permanecia ligada e seu som exercia uma hipnose que não concretizava-se. Desligou-a. Tentou ler o jornal; política, esportes, cidades, classificados, nada o agradava, nada conseguia atrair o mínimo de atenção confortável que fosse, nada. Sem escolhas foi para o seu companheiro semanal, aquele que o ajudava nas pesquisas, aquele com quem passava mais tempo “dialogando”. Ligou o laptop, aguardou sua inicialização e rapidamente abriu o navegador. Leu revistas e jornais onlines, estressou-se, as noticias eram as mesmas dos papéis, abriu sua caixa de e-mails esperando algo recente, além de correntes de doação, reportagem marrons e ofertas de venda, um e-mail novo só. Sentiu-se antiquário, arcaico, havia 40 min passados em casa e não fizera nada de novo, nenhuma uma atualização, sentiu-se um blog não lido, um orkut sem visitas, precisava de um upload. O tempo corria e suas ações continuavam previsíveis, abriu o msn afim de ser informado. Após 10 minutos de “oi”, “como vai?”, “9dades?”, sentiu a necessidade de fechá-lo, sentiu a necessidade de cessar seus monólogos. Seguiu sua viagem navegando por outros sites, partiu por todos que conhecia e os ainda não descobertos. Viajou dos jogos, carros, teste de memória, vídeos, apelou para o pornô, mas nada durou mais que 50 min. Mudou, queria algo mais interessante, menos humano, pegou seu smartphone para ver no que dava. Fez alguns projetos, enviou alguns e-mails novamente nada além do habitual, era hora de ler, pensou. Correu até o quarto, abriu a porta e pegou seu i-pad. Continuou com Cervantes a saga de Dom Quixote, havia tempo que pegara num livro, muito tempo, mais de 1 ano, aquilo era muito antigo. Leu em torno de 50 páginas o que lhe rendeu mais 1 hora. Cansou, já havia feito muito no dia, hora de dormir.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A menina que espalhava sorrisos

De pega-pega, esconde-esconde, baleada, pula corda,
Ela era criança,
E como toda, ria,
Ria quando ia para o circo,
Ria quando escutava alguma piada engraçada,
Ria quando caia, ria sem querer,
Ria às vezes por que não queria rir,
Ria.

Cresceu,
Deixou de lado a bola, corda e a infância,
Não deixou os sorrisos, nem o carisma,
Agora, a menina moça brincava de espalhar sorrisos.

E que belos eram seus sorrisos!
Sorrisos estes de conquista,
Daqueles de mostrar todos os dentes,
Daqueles de amansar qualquer “marmanjo”,
Daqueles ditos de suspiro. Daqueles!
E a dona deles não fazia feio,
Não mesmo.

Dança, charme, amizade, carinho,
A dona dos belos sorrisos se divertia,
Parecia uma velha brincadeira de infância,
Que a mulher de agora exercia,
Mudou,
Mas, continuava a espalhar sorrisos.

Chega um dia que a curiosidade vem,
A insolência avança e alguém pergunta,
“Por que espalhas tantos sorrisos?”
“Simpatia!” Afirmava,
“Bela simpatia, então!”Diziam,

Com certeza sabiam, mas poucos se preocupavam,
Seus sorrisos?! Não seriam eternos,
Porém, pelo período que fosse durariam,
Ninguém sabia, era seu segredo,
Seus sorrisos apagavam o medo.

Na “vida viva” existe dor, lágrimas e tristeza,
Na dela?! Tinha, com acréscimo da simpatia,
Por isso, a mulher espalhava sorrisos,
Para os outros na mágoa, dor
Para ela? Ninguém sabia,
Só sabiam dos seus sorrisos.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Das congratulações

É, quem diria que a rosa beijaria seus espinhos?! Parece não ser aceitável, porém, a discórdia e o medo foram nossos primeiros sentimentos. Aquele que te contrariava, que rebatia com idéias opostas até então não confrontadas da rosa doce, da figura modelo, que mais dava dor de cabeça do que aconchego. Entretanto, num tom nada persuasivo me pegou, e de jeito por sinal. Não tenho nada a te oferecer, dizia, não precisas também não tenho. Faltou dizer. Desculpe-me nunca fui o melhor dos românticos. Poderia sim ter desistido, poderia ela ter parado de olhar-me, no entanto, nosso ID superava-se. Você me quer! Não, não quero! Então, por que não paramos de nos olharmos? Por que não paramos de nos abraçarmos? Bem, minha cara, não foi fácil, mas a comunicação direta não era das melhores. Contudo, o mais animalesco gesto presente na natureza exercia-nos soberania; nossos instransponíveis e longos abraços. Ah, esses sim falavam, ao contrário dela. Alguns momentos e pessoas escolhemos, outros somos intimados, esse foi o nosso caso. Não como um poeta que detém metáforas belas, e sim pela a insistência do nosso gostar. Bem, o momento criativo se acaba e os sentimentos eclodem agora. Nesses dois meses passados creio que nos esquecemos; os mútuos sentimentos sempre acompanharam. Embora, que houvesse tropeços não desistimos de permanecer a dois, mesmo que isso precisasse ser dito e sentido. Parabéns para a gente, meu amor!

Oeslle Alexandre
21/02/2010